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domingo, 27 de setembro de 2009

Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você realize o seu desejo.

Paulo Coelho

A decisão


Ela olhou em volta e percebeu que naquele último momento, estava só.


De novo. Aquele homem alto, forte que alguma vez julgara ser o amante, agora estava longe. Ele decidido estava, pelo andar dos acontecimentos, iria embora.

De longe se percebia uma lágrima que dimanava pela face daquela. A única mulher que o amara sem julgamentos ou medos. E ela, sentando- se no banco mais próximo chorou o amor que fora perdido, o mais intenso, o pelo qual valeria à pena...

Aquele amor abrasava seu peito e a sufocava, despiu- se rente ao espelho e tentou em vão trazer ao presente aquele passado tão sereno e veemente, tocou- se no rosto tentando senti-lo.

No caminho para casa ele parou de frente ao relógio de uma igrejinha sem graça e observou com -pode- se dizer rancor- remorso, algo que o incomodava e o fazia arrepiar até as veias: o tempo, inimigo mor dos amantes, não parava sequer um milésimo de segundo pra que ele pudesse discorrer e voltar pedindo o colo daquela mulher tão intensa e esta abraça- lo fervorosamente como se não tivesse havido nada, e só então o tempo voltaria ao seu normal e tudo estaria perfeitamente de volta aos eixos.

Já era tarde e uma chuva fininha caia sobre seu colo, enquanto ele, sentado observava o andar dos ponteiros. Os pingos da chuva se misturavam ás lágrimas ralas que caiam, molhando mais ainda sua roupa e fazendo- o criar coragem para seguir a vida.

Ela, escondendo o pranto como se estivesse a atuar, enxugou o rosto com as mãos num gesto meio rude e voltou- se para a porta, deixou- se voar para aquele momento, como um pássaro com brandura se deixa levar até o predador. Esqueceram por um momento o que se passou e levianamente se deixaram levar pela brisa que batia em seus rostos. Assim se deram conta que deram tudo que tinham, amaram- se da forma mais pura e mesmo assim o tempo e a insegurança os separaram e os levaram a caminhos totalmente dispersos. Sentiam muito, mas já não era bastante.


O tempo não para


Disparo contra o sol



Sou forte, sou por acaso


Minha metralhadora cheia de mágoas


Eu sou um cara


Cansado de correr


Na direção contrária


Sem pódio de chegada ou beijo de namorada

Eu sou mais um cara


Mas se você achar


Que eu tô derrotado


Saiba que ainda estão rolando os dados

Porque o tempo, o tempo não pára

Dias sim, dias não

Eu vou sobrevivendo sem um arranhão

Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos

Tuas idéias não correspondem aos fatos

O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado

Eu vejo um museu de grandes novidades

O tempo não pára

Não pára, não, não pára

Eu não tenho data pra comemorar


Às vezes os meus dias são de par em par


Procurando uma agulha num palheiro


Nas noites de frio é melhor nem nascer


Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer


E assim nos tornamos brasileiros


Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro


Transformam o país inteiro num puteiro


Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos

Tuas idéias não correspondem aos fatos

O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado

Eu vejo um museu de grandes novidades

O tempo não pára

Não pára, não, não pára

Cazuza

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Milton Lopes Lima

Aquele homem que mudou minha vida, me fez ver o quão bela e simples ela pode ser e de um dia para o outro simplesmente me deixou sozinha e saiu sem nem ao menos se despedir. A saudade que eu tenho desse homem é inexpressável e aumenta a cada dia que penso que tão cedo não vou poder vê-lo.
Se ao menos ele pudesse saber que as palavras que não foram ditas, as risadas que foram dadas, os ensinamentos que foram passados, ficaram gravados em mim e com certeza nunca vão ser esquecidos. Até hoje passados dez anos, ainda consigo lembrar com perfeição daquele sorriso que ele fazia questão de nunca tirar do rosto, daquela barriga que ele exibia com orgulho e daquele gosto por forró como só ele tinha.
Esse homem que tanto me fez rir, que tanto me ensinou, que me ensinou a gostar, a ter caráter, a dar valor ás pessoas, e quando eu menos imaginava foi embora e me deixou quase sozinha. Um homem, que eu nunca mais encontrei igual, único. Um que fazia cócegas em mim e que nunca me tirava da cabeça. O único que me ensinou que só é preciso fazer coisas prazerosas, que nossas obrigações só são enfadonhas quando não conseguimos fazê-las da melhor forma possível.
A falta que este homem me faz e quanta dor ela me causa. O quão mal eu me sinto em nunca ter dito obrigada ou eu te amo ao único homem que me deu ensinamentos dos mais preciosos e o que mais me amou e o que se entregou a esse amor puro, sem esperar nada em troca.
O quanto eu amo esse homem mesmo depois de tanto tempo. O quanto eu ainda lembro daquele homem com todos os seus detalhes. As perguntas que eu ainda quero fazê-lo, os carinhos que só ele sabe dar. A falta que esse homem me faz, o vazio que ele deixou em mim. O vazio que ele deixou na minha vida.
O bem que só ele soube me fazer, a falta que só ele soube me fazer.
Aquele homem, esse homem, a falta que este homem me faz, o quanto eu amo este homem. O professor, o sorridente, o único.
Dizer tudo isso pra ele e dizer ainda que ainda o espero pra terminarmos nossa última conversa e por mais tarde que já seja, dizer que eu o amo. E de forma única pra combinar com ele.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Desiderata


Ide tranqüilamente entre o tumulto e a pressa e lembrai-vos da paz que pode existir no silêncio. Sem alienação, vivei tanto quanto possível em bons termos com todas as pessoas. Dizei calma e claramente vossa verdade, e ouvi os outros, mesmo o pobre de espírito e o ignorante; eles também têm sua história. Evitai os indivíduos barulhentos e agressivos, eles são um insulto para o espírito. Não vos compareis com ninguém: correríeis o risco de vos tornar vaidosos. Sempre há alguém maior e menor que vós…
Desfrutai vossos projetos assim como vossas realizações, sede sempre interessados em vossa carreira, por mais modesta que seja: é uma verdadeira posse nas prosperidades mutáveis do tempo. Sede prudentes em vossos negócios, porque o mundo está cheio de malícias.
Mas não sejais cegos no que concerne à virtude que existe: vários indivíduos buscam os grandes ideais e em toda parte a vida é repleta de heroísmo. Sede vós mesmos. Sobretudo não simuleis a amizade! Tampouco sede cínicos no amor, porque em face de qualquer esterilidade e de qualquer desencanto ele é tão eterno quanto a relva…
Aceitai com bondade o conselho dos anos renunciando com graça a vossa juventude. Fortalecei a prudência de espírito para vos proteger em caso de infortúnio repentino. Mas não vos aborreçais com quimeras! Numerosos temores nascem da fadiga e da solidão… Para lá de uma disciplina sadia, sede ternos convosco mesmos. Sois filhos do universo, tanto quanto as árvores e as estrelas: Tendes o direito de estar aqui…
E, percebais ou não, o universo se desenrola sem dúvida como deveria. Esteja em paz com Deus, qualquer que seja vossa concepção dele e, quaisquer que sejam vossas obras e vossos sonhos, guardai no desconcerto ruidoso da vida a paz em vossa alma. Com todas as suas perfídias, as suas tarefas fastidiosas e os seus sonhos desfeitos, o mundo é belo! Prestai atenção…
Tratai de ser felizes.


Texto de Max Ehrmannn, hoje pertencente a Robert L. Bell.