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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O homem- anjo

Encontrei um anjo na rua. Com ele encontrei o mais sincero sorriso que pode caber numa desdentada boca. Quando o vi, logo soube que não se tratava de um ser animal, mesmo que racional. Era sobrehumano. Havia atrás dele, ao redor do corpo, uma luz que brotava de não sei onde e o iluminava por inteiro. Minha vontade era agarrá-lo, pedir-lhe que me levasse consigo pro seu mundo, mas não o fiz: paralisei e fiquei lá a admirar o anjo velho com sua arte, tentando ganhar seu sustento.
Nos olhos do anjo, eu via mil coisas: parece-me que brotavam cores que eram direcionadas pelo olhar e essas cores preenchiam todo o ambiente, o deixando muito mais leve. E uma vez atingida por esse olhar não havia complicação que não se desfizesse.
Quando meus olhos viram tamanha imensidão num tão franzino e maltratado corpo, não sei se foi o mundo que parou de girar ou o tempo que parou de marcar seu frenético e ordinário tic- tac, tampouco sei se de fato todas as pessoas ao meu redor desapareceram  gradualmente, como o sol o faz quando já é hora de se por. O que sei é que fiquei sem reação: uma garota encantada a olhar o objeto do seu desejo, um homem- anjo. Pus em seu chapéu algumas moedas e saí caminhando, antes o vi agradecer com um gesto e juro: nunca vi um sorriso tão iluminado. Fiquei feliz por saber que ainda há anjos e escrevo na esperança de lembrar-me desse dia, afinal não é todo dia que se pode encontrar-se com tais seres dotados de tanta luz. E trazer o encanto de um deus é impressionante, ao menos pra mim.

Poema besta

Um pouco mais de adoçante
na vida de quem não sabe
que gosto bom
que o amor tem.

Mas tem que ser bom adoçante
que adoce antes do tempo
a vida, a vinda e a boca
além dos sonhos desse alguém.

de estudante?

          Ele sabia que em um olhar nada inocente se escondia a mais culpada das tentações? E que falando o que tinha de ser falado, conquistaria mais do que se deveria esperar? É claro que sabia, era homem.
          E por trás daquela pele um pouco mais escura que o branco, se escondiam mil coisas que ele fazia menção de mostrar. Era como se soubesse que há em mim mais atração pelo mistério do que pelas matérias que a vida de estudante me impunha.
         E então o que ele era? Eu não fazia muita questão de entender, nenhuma explicação iria me bastar. Com ele tudo era insuficiente. Mas era só uma paixão de estudante: nunca ia morrer (nunca morreu) e tampouco não duraria sequer mais um segundo. Mas um segundo era muito, eu precisava de menos que isso para saciar-me.

Sutilmente felicidade

Eu achava que quando a felicidade chegasse, ela ia chegar gritando, pra avisar que já estava ali. Chegou calma, sutil e silenciosamente. Quase não a percebi. Mas aí ela mexeu comigo e eu me senti tão grata por tê-la, era como se nada pudesse me atingir...

Teus olhos são duas caixas

Teus olhos são duas caixas
e mil monstros a guardar
Seus segredos, você sabe que me encantam.
Há muito com que me encantar.
E  vai além de qualquer infinito ínfimo
E não há nada que me tome mais por inteiro
do que o seu corpo a envolver-me
juntando cada pedaço
fazendo dois corpos parecerem um só.
E então nada melhor do que perder-me
se é em ti que eu vou me encontrar.