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domingo, 20 de junho de 2010

Quando a primavera adormece


Amo-te como somente as almas são capazes de amar.
Tu vives em mim, e eu, presa a ti,
Nem percebo o tempo se arrastar.
Um dia as andorinhas voltam para o lar: fim da primavera.
E só restará, no fundo de um copo amarelado
O drink que eu tinha preparado,
 Pra comemorarmos o amor que estava aqui
E que agora se esvaiu com as andorinhas.

Retrógrado


Ela vivia tudo com uma intensidade limitada.
Se ria, era para informar da felicidade a que a farsa a sujeitara.
Vivia em constante insatisfação.
De seus olhos, cada dia que se passava era um pouco de brilho que se esvaía.
Não havia suor sagrado nem pão de cada dia.
Não havia asas ou pernas, amor ou ódio
Era tudo meticulosamente calculado
 Mas nenhum cálculo levava-a ao ápice.
Cuidava para que ninguém descobrisse o breu em que vivia.
E se afundava pouco a pouco na escuridão,
Que quanto mais tentasse respirar
Mais a fumaça negra enchia seu pulmão.
E falecia a cada manhã.
Era a falta de ar, de amor, de alegria...
De decência.
 Sofria num extremo entre a loucura e o limite.
E respirar já não era suficiente.
Certo dia afundou-se de vez na lama preta que a envolvia
E viveu, pela primeira vez sem limites, sua morte.
E sempre haveria um que dissesse:
-Quem diria, quem diria!

Por que quando viver já é insuficiente, somente a bandeira da morte pode espantar a dor que se torna viver.”