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sábado, 15 de maio de 2010

Me bastou

Era uma casa bem pequena e simples e nela havia um jardim também pequeno, mas que continha as mais requintadas riquezas (porque flores também são riquezas). Dentro da casa, pouquíssimos móveis ou paredes, mas muitos sorrisos de diferentes origens.E meu pai, que não tinha nenhuma doença e não tinha morrido, sorria voluptuosamente. Voluptuosamente.
Na rua da casa, todas as noites, vários menininhos vinham sempre jogar futebol. Com seus rostinhos de inocencia ingenua, suas risadas con-ta-gi-an-tes, suas vozes mansas e doces.
Nessa época a casa ainda era engraçada e ninguém me convencia do contrário. O jardim estava sempre cheio de borboletas e as flores exalavam um perfume extasiante.Extasiante.
Na hora do café, a vovó fazia cócegas em nossos pés por debaixo de nossas redes, nos mandando levantar. Pro almoço todos se sentavam à mesa e conversávamos sobre como foi a manhã e, quando o dia enfim se encontrava com o lento e leve piscar do crepúsculo, jantávamos todos juntos comentando os pontos àpices de nossos dias. Era mágico e cada um alí se sentia responsável pela alegria do outro mesmo sabendo que ninguém ali era responsável por nada.Era tudo mágico. Perfeição. Foi nesse tempo, nesse dia, nesse minuto e em exatamente qualquer milésimo de segundo, que acordei. Me bastou.
Um vazio que fica quando alguém parte e deixa uma ferida aberta.
- Dor
- Ausência
- Perda
Um conhecimento que se ganha depois que se perde tudo que tem.
- Preenchimento
- Alegria instantanea
- Brilho
Uma mudança quando menos se espera. Muda a casa, a cor da casa, o cheiro, a rua, a cor da rua, o cheiro da rua. Aqueles menininhos não jogam mais bola aqui. Será que eles também sentem a ausencia do ser que se foi?
Qual o sentido de tudo que existe se tudo só ganha sentido depois que se vai?
- Verdade.
- Sentido.
Há que sempre se perder algo quando se ganha alguma coisa? O que se perde quando se ganha sentido?
Qual o seu sentido?
O tempo passa, não se preocupe.