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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Carta à M.

Oi M., hoje eu resolvi te escrever depois de tanto tempo, tanta saudade. Eu sei que você vai pegar o envelope e pensar que alguma coisa aconteceu comigo, mas na verdade eu só estou te escrevendo por que adiar o prazer de me comunicar contigo é autoflagelação, e você sabe que eu jamais me faria sofrer tanto, apesar de tudo. Morro de saudade das nossas conversas, você tinha o timbre de voz mais doce que eu já ouvi na minha vida inteira. E aí, como andam as novidades? Tem trabalhado muito? Sei que sim, mas pare rapaz. Eu sei que você precisa ganhar o sustento da sua alma, mas acredite: Se seu corpo estiver satisfeito então seu espírito só vai precisar de paz, de nada mais que isso. E a cidade? Já se acostumou ao clima? Disseram-me que você esteve aqui, não acreditei, pois o porteiro não noticiou nenhuma visita sua. Sinto muito ter me afastado tanto. Hoje, mais do que nunca, tenho sentido sua falta.
M., sabe aquele pensamento que você teve quando pegou o envelope da carta e viu o remetente? Acho que você estava certo. Ah! Você sabe bem de mim. Você sabe que quando eu estou vazia, eu escrevo. Mas não sofro de nenhuma doença, quero dizer, eu acho que minha única doença é sentir tanta falta. Estou padecendo em falta. Padecendo, M.! Você acredita? É que depois que você se mudou, demorei um pouco pra me acostumar de novo. E aí, devido à minha antipatia ou algo desse tipo, não fiz nenhum amigo novo. E os velhos, deixaram-se envelhecer: a maioria hoje resmunga pra sobreviver e os outros não escutam mais quando eu falo. Há ainda aqueles da turminha de sexta- feira, mas andamos muito ocupados. Então, desde que você se foi, eu venho guardando as coisas que eu tenho pra falar. Às vezes eu falo pro espelho mas ele não é bom pra conversar. Você é. Ah, sei lá. Os anos passaram né M.? Entenderei se você não me responder. Mas eu quero te falar que eu já perdoei você por não ter vindo falar comigo naquele dia. Não existe mais mágoa entre nós. Só saudade. Sua ausência me deixa ausente de mim mesma.
Mas apesar de tudo, ando bem. Acredita que agora meu prato é repleto de verde? Ou que meu modo de sentar é o mais reto possível? E se eu te disse que enjoei de andar descalça? Ah, M. as novidades são tantas. Já faz tanto tempo. Enfim, era só isso. Responde quando tiver tempo e para de gastar tempo trabalhando homem. Isso pode te matar. Vou pegar uma roupa aquecida por que o Rio de Janeiro tá frio essa noite.
Beijos saudosos.




Renata Macedo

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